Estamos diante de um momento inusitado e sem precedentes para a nossa geração, que assola o mundo inteiro. Como em todas as outras instâncias da vida em sociedade, houve uma ruptura nas diversas tradições do educar, das metodologias, das salas de aula lotadas, a alegria do barulho das crianças nos parquinhos, pátios, etc.
Entendemos que catástrofes globais mudam o mundo e também o nosso modo de pensar e agir, mas também nos deixam grandes ensinamentos, mesmo que em alguma medida, doloridos. O legado dessa pandemia vai viver conosco para sempre e isso, não tenham dúvida, mudará o modo como educamos, como nos movemos e nos conectamos.
O que significa educar neste tempo para o qual nós não nos preparamos? Fomos arrastados por ele e estamos jogados numa condição em que nenhum de nós imaginou viver. O que tivemos de certo desde o princípio foi o foco em não perder de vista a missão que assumimos na vida. Estamos confinados, sim, mas ao mesmo tempo desenvolvendo atividades em nossos campos de trabalho.
Destacamos três olhares peculiares para se pensar a educação em tempos de pandemia: Autoeducação dos pais, cuidadores ou responsáveis; a construção do conhecimento e a sociabilidade.
A autoeducação durante a pandemia nos impõe a “educação de si mesmo”. Mesmo sem o devido tempo para nos preparar, estamos nos organizando para enfrentar essa adversidade sobre a qual não temos nenhum controle, com o olhar de que toda bagagem que estamos agora construindo servirá para o mundo que receberemos depois de terminado esse período de tanta incerteza. Ninguém desejou uma pandemia, mas a partir do momento que ela nos foi imposta, foi preciso aceitar o convite para a reconstrução de tudo em nossos papéis sociais (já não somos os mesmos em nossa profissão, nem em nossa família, nem mesmo entre amigos). Transformar a nossa forma de olhar para o outro e produzir coisas importantes para as nossas vidas a partir de uma nova perspectiva se tornou vital. Cada um que fizer uma reflexão sobre si mesmo, perceberá que ainda é possível cuidar do outro, da sua família, amigos e da comunidade como um todo. Viver em sociedade é, afinal, isso: uma avaliação do que deve permanecer e do que precisa mudar. Na era da velocidade, tivemos que acelerar também a nossa percepção e capacidade de resiliência frente às novas exigências.
O ato de conhecer, o sujeito submete-se a um processo de abertura e relação com os fundamentos que sustentam o saber, transgredindo, assim, as fronteiras fixas; também buscando ressignificar o modo como ocorre a construção dos conhecimentos. Neste momento em que a sala de aula está em algum canto da tua casa, é primordial lembrar que o que se educa hoje deve ser útil para o resto da vida do seu filho.
Chamamos a atenção, nesse sentido, para algumas situações vivenciadas, nas quais os pais querem resolver “na hora” suas insatisfações ou querem que suas reivindicações sejam satisfeitas com perfeição e dentro de seus próprios parâmetros. É necessário, entretanto, que reflitam sobre a heterogeneidade de condições que permeiam o processo de educação e que compreendam que estamos aprendendo juntos a passar pelo processo.
De repente, dificuldades às quais apenas os professores tinham acesso em sala de aula, confrontam toda a família dentro de suas casas e talvez só agora tenham a medida exata do que é, em um processo de educação formal o ato de planejar, vivenciar, avaliar e (re)planejar, para começar tudo outra vez – e isso a cada componente curricular.
Talvez seja mesmo desesperador, porque são pais e não especialistas em Pedagogia. Fora disso, nem tempo para tal, possuem. Compreendemos esta sensação de angústia, mas precisamos entrar num consenso de que estamos do mesmo lado e que a confiança de que o melhor (dentro das nossas condições) está sendo buscado e oferecido, tudo dentro da perspectiva de que cada criança está em um processo de ensino e aprendizagem particular e que ela merece que seu ritmo seja considerado. Forçá-la seria como fechar seu mundo. É preciso ainda parar, além disso, demonstrar confiar e prestar o apoio necessário no caminho do seu êxito.
Neste tempo devemos perceber o quanto a sociabilidade é extraordinária em nossas vidas. A educação não se resume apenas em sala de aula, acontece principalmente na dimensão do encontro com o coletivo, que assim como os componentes curriculares é eficaz neste processo de aprendizagem.
A pandemia, sem dúvida nos pegou despreparados – é preciso admitir! Mas quem sabe a gente possa reconstruir o valor e a importância do encontro e da presença depois de tudo isso.
Enfim, tudo se transformou: professores, famílias e estudantes, a aula agora é em casa e as experiências educativas trocadas com a família e escola nos direcionam para o único fato que move essa transformação: o amor pelo conhecimento! O que também não muda é a necessidade de mais empatia, compreensão e parceria.
Muitas instituições e autoridades de ensino têm procurado municiar as famílias com conteúdos educativos para serem aplicados em casa. O objetivo é minimizar o impacto da perda de aulas presenciais durante os meses de quarentena e dar continuidade ao currículo escolar. Para muitas famílias, a experiência oferece um novo lugar de convívio. A gente precisa retomar algumas questões da oralidade, no contato social mesmo. As pessoas estão deixando de conversar e é uma bela oportunidade para aproveitar melhor o ambiente familiar.
Quando se trata da Educação Infantil, o objetivo principal é manter o vínculo com as crianças e continuar servindo de referência para as famílias, especialmente em um momento tão delicado quanto o da quarentena. Ao mesmo tempo, grupos de pais no WhatsApp estão cheios de angustias que mostram um outro lado de uma realidade inédita e muitas vezes complicada de operar na prática. Fazer as crianças se concentrarem e terem interesse nas atividades escolares muitas vezes se mostra desafiador dentro de casa. O cotidiano é o principal conteúdo na primeira infância e neste momento específico nós Escolas estamos buscando alternativas para orientar as famílias, direcionando algumas atividades relacionadas às áreas de conhecimento de forma leve e atrativa, possíveis para os diversos contextos em que as famílias possam estar inseridas agora. Então com apoio e empatia iremos conseguir um equilíbrio com o corpo pedagógico das escolas compreendendo com as famílias dando todo suporte necessário para que tenhamos um convívio amigável. As famílias devem colocar para escola que estão sobrecarregadas, pensar de que forma essa união entre família e escolas pode culminar em um aprendizado que é muito maior que de conteúdo, que é de trabalhar em equipe. Então trabalham os filhos, a família e a escola.
Além disso, deparemos com desfio peculiar, onde as famílias precisam criar um ambiente que proporcione para a criança esse desenvolvimento da criatividade, com lápis de cor, tinta, jogos, uma casa organizada, uma alimentação saudável. Olhar para criança sempre lembrando que a criança não é só o hemisfério direito do cérebro ou só o esquerdo do cérebro. A criança não é só cognitivo, ela tem um lado emocional e artístico.
Devemos atribuir um olhar clínico e perceber essa criança nesse formato total. Ou seja, incentivar despertar o interesse da criança não é fazer com que ela fique ocupada, e sim envolvida em questões do cotidiano. Tem um dito popular, que fala “vida ocupada demais talvez seja uma vida vazia”.
Se eu quero despertar o interesse preciso estar com três cartas nas mangas: ouvir a criança, ter o espaço do ócio criativo e proporcionar um ambiente com diversos materiais criativos.
Em relação ao ensino em casa, é compreender que esse momento com as crianças em casa não se reduz apenas ao conteúdo que a escola planejou para compartilhar e cumprir. Esse momento é muito maior que é despertar o interesse da criança, levar em consideração os outros momentos e não só o momento do interesse de cumprir com esses conteúdos escolares. Ai recai sobre as questões que sugerimos de criar um espaço na casa onde estejam adequando ao novo convívio escolar com as tarefas que elas têm que cumprir, como as aulas online, tudo sempre muito visual, colorido, as crianças são visuais. Então é pensar nesse formato e até construí-lo com elas.
Nesse período também é muito importante essa organização do tempo com flexibilidade. A criança tem um horário que sabe que vai cumprir com as tarefas escolares, tem o número de horas de TV, número de horas que ela vai ter que ficar com ela mesma, outro momento com a família, o momento dos afazeres domésticos, e muito mais. Olhar para a criança como um todo e não separar a criança e só dar atenção para ela no momento do conteúdo da escola.
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